Em tempos de crise como vivemos no Brasil nos últimos anos, não são raras as empresas que estão passando por dificuldades financeiras. Assim, é necessário atenção, para que, caso o negócio esteja enfrentando um problema desta ordem, consiga utilizar-se de mecanismos para sanar o contratempo que se instalou, como por exemplo renegociar dívidas com bancos e fornecedores.
O primeiro sinal de alerta é quando a empresa não consegue cumprir suas obrigações em dia e começam os pequenos atrasos com fornecedores e bancos, é o que afirma Cláudia de Lurdes da Silva Gonçalves, advogada, mestre em Direito Empresarial e sócia diretora no escritório Cláudia Gonçalves Advogados Associados.
“No início, é possível identificar com mais clareza qual o tipo de crise a empresa está enfrentando e, desta forma, encontrar soluções menos drásticas.” Logo, destacou ela, o diagnóstico correto é fundamental para que se possa traçar a estratégia adequada. “Nesse momento, é necessária uma atenção redobrada ao fluxo de caixa e sua projeção a curto prazo.”
– De que forma a empresa deve proceder quando diagnosticado o problema?
O ideal é que quando se perceba a crise se busque equipe especializada no assunto. Esse deve ser um momento de cautela, qualquer decisão precipitada pode causar forte impacto negativo em futuras negociações. Muitas vezes, as pessoas que estão envolvidas diretamente na operação da empresa não analisam a situação com calma, e nem mesmo conseguem tempo para ponderar sobre cada renegociação que tem de ser feita.
– Quem deve tomar à frente desse processo?
Para se colher bons resultados são necessárias uma equipe jurídica especializada em gestão de crise e outra contábil afinada, para que juntas possam tecer boas negociações e estar atentas ao presente e planejando o futuro da empresa.
– Em que termos é válida a renegociação com bancos e fornecedores para que a empresa não contraia dívidas ainda maiores?
Em caso de repactuação de contratos, é preciso estar atento às taxas de juros e parcelamentos. Muitas vezes, é possível fazer a renegociação diminuindo os encargos financeiros. Nesse ponto, é necessário muito cuidado, pois uma renegociação feita sem a análise técnica pode trazer mais prejuízos futuros, vindo a agravar a situação da empresa. A recomendação é sempre buscar profissionais capacitados para não aumentar o passivo da empresa a longo prazo.
– Onde entram os contratos firmados pela empresa em caso de renegociação financeira? Que cuidados são necessários na análise desses contratos?
Havendo uma renegociação, novos contratos serão firmados. Porém, é necessário um exame criterioso de quais as garantias estão comprometidas em cada acordo acertado. É preciso ter cuidado para evitar um comprometimento ainda maior dos ativos da sociedade, tais como maquinários, automóveis e imóveis, além de cautela para que não haja um maior comprometimento do patrimônio pessoal dos sócios.
“A análise dos demonstrativos contábeis é indispensável para que se possa identificar qual será o tamanho da crise a médio e longo prazos. É com base nas informações contábeis que é possível fazer um diagnóstico adequado.”
– Em caso de renegociação financeira, como a empresa deve proceder com seu cliente?
Em primeiro lugar, também é importante estar atento às crises de seus clientes, e, caso sendo procurado para alguma renegociação, é indispensável buscar ajuda de uma consultoria jurídica especializada, a fim de evitar transtornos maiores no futuro.
– Onde entra a contabilidade nesse processo de renegociação?
A Contabilidade é fundamental desde o início do processo. A análise dos demonstrativos contábeis é indispensável para que se possa identificar qual será o tamanho da crise a médio e longo prazos. Inclusive, diversas empresas quando são procuradas para renegociar algum contrato, solicitam balanços e balancetes para verificarem a real situação de quem pretende renegociar.
– E a escrituração contábil, qual sua importância?
É de suma importância que as empresas mantenham sua escrituração contábil em dia. É com base nas informações contábeis que é possível fazer um diagnóstico adequado. Essa análise, inclusive, poderá servir de argumentação nas negociações, justificando tecnicamente a necessidade de prorrogação de prazo, por exemplo. A escrituração auxiliará como base para a análise de onde iniciou o problema financeiro. Desta maneira, se parte para buscar sua causa, que pode ser financeira, comercial ou de mercado.